segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Alcoolismo: genética ou ambiental



Estudos de gêmeos, filhos adotivos e modelos animais já mostraram que o alcoolismo tem um componente genético. Um dos estudos mais interessantes a esse respeito foi feito com macacos. Quando expostos ao álcool, alguns desses macacos se tornam alcoólatras, outros recusam bebidas alcoólicas enquanto a maioria bebe moderadamente, um comportamento comparável ao humano – o que comprova o componente genético no consumo de álcool. O modo de herança proposto é o multifatorial, ou seja, a interação entre genes de susceptibilidade e o ambiente. Achar genes de susceptibilidade para características de herança multifatorial não é fácil. Exige amostras gigantescas muito bem caracterizadas. Um estudo como esse, do qual participaram autores de vários países da Europa, foi publicado em abril deste ano na revista Proceeding of the National Academy of Sciences, envolvendo mais de 47.000 pessoas.

O impacto do alcoolismo
Estima-se que, em países desenvolvidos, 9% das doenças estejam associadas ao alcoolismo, incluindo algumas formas de câncer, doenças cardiovasculares, cirrose hepática, doenças neuropsiquiátricas, injúrias causadas por acidentes e síndrome do álcool fetal, entre outros. Embora os hábitos de consumo de álcool sejam principalmente socioculturais, estima-se que fatores genéticos contribuam em aproximadamente 40% para o desenvolvimento do vício.

Como foi feito o estudo ?
Os autores analisaram os hábitos de consumo de álcool em 26.316 indivíduos de 12 populações da Europa. Encontraram um gene, AUTS2, que estava associado ao alcoolismo. Para confirmar os resultados, os autores estudaram uma segunda amostra de indivíduos. A função desse gene ainda é pouco conhecida, mas sabe-se que ele tem papel evolutivo importante no desenvolvimento neuronal de várias espécies, desde a drosófila – a famosa mosquinha da fruta – até o camundongos e os seres humanos. Ele tem sido muito estudado em autismo, em pessoas com déficit cognitivo e mais recentemente na síndrome de déficit de atenção. Em seguida, os autores analisaram o cérebro de camundongos com alto consumo de álcool, em comparação com aqueles com baixo consumo, e confirmaram mais uma vez o envolvimento desse gene. Finalmente estudaram o tecido cerebral em autopsias de 96 pessoas e confirmaram uma associação entre a expressão desse gene e o consumo de álcool. Além disso, observaram que ao diminuir a expressão desse gene em drosófilas, elas se tornavam menos sensíveis aos efeitos do álcool.

É importante deixar claro que esse é um dos vários genes envolvidos no alcoolismo e que mesmo que haja um componente genético o consumo de álcool ainda depende mais de fatores socioculturais. Portanto, se você exagera na bebida, nada de culpar seus genes !

Por Mayana Zatz

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