quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Excesso de Álcool



Quando se fala em dependência química, a preocupação maior é com as drogas ilícitas. No entanto, o grande inimigo está camuflado sob o manto do socialmente aceitável. O álcool nem sequer é considerado uma droga que causa dependência física e psicológica por grande parte da sociedade. Sua venda é livre e ele integra a cultura atual ligada ao lazer e à sociabilidade. O efeito relaxante das doses iniciais desaparece com o aumento do consumo. Se o convívio com uma pessoa embriagada incomoda, isso não é nada diante dos males que o álcool pode causar e que não se restringem às doenças do fígado. A labilidade emocional que num instante transforma o alcoolista risonho num indivíduo violento é responsável não só pelo aumento da criminalidade, mas também pela desestruturação de muitas famílias ! Beber com moderação é possível, mas raros são os que reconhecem estar fazendo uso abusivo e nocivo do álcool. 

Metabolismo do álcool 
O álcool é absorvido rapidamente pelo estômago e duodeno e, em instantes, cai na circulação sanguínea. Na primeira passagem pelo fígado, começa a ser parcialmente metabolizado, o organismo procura formas para livrar-se dele, destruindo moléculas e expelindo porcentagens pela urina, suor, hálito, etc. O que sobra desse metabolismo vai exercer sua ação em todo o organismo, pois são necessárias várias passagens pelo fígado para que ele seja destruído completamente. Leva aproximadamente uma hora para o fígado metabolizar um copo de vinho e não há nada que acelere esse processo. Então, se a pessoa tomou 10 copos, vai ficar com álcool no sangue por pelo menos 10 horas. As pessoas perguntam se glicose ou café forte ajudam a eliminar o álcool depressa. Isso não acontece sob hipótese alguma ! Se alguém bebeu demais, a tendência das pessoas ao redor é colocá-lo debaixo do chuveiro e enchê-lo de café. No entanto, o máximo que conseguem com tais medidas é ter um bêbado desperto, porque continuará alcoolizado. No caso de intoxicação, o melhor é deixar a pessoa dormir o tempo necessário para livrar-se do álcool que bebeu em excesso. Ter conhecimento dessas características do metabolismo do álcool é muito importante para estabelecer um parâmetro em relação ao beber e dirigir. Quem bebeu um copo de chope ou vinho deve esperar pelo menos uma hora para poder dirigir com mais segurança.

Efeito nos circuitos cerebrais
O álcool age em vários sistemas químicos cerebrais. Sua primeira ação é sobre a química do controle da ansiedade. A pessoa fica mais relaxada, tende a filtrar os estímulos e por isso interage melhor com os outros. Se ela chegou à festa muito ansiosa, com medo de ser criticada ou de estabelecer relações, uma pequena dose de álcool irá relaxá-la um pouco e a tornará menos perceptiva em relação aos outros e mais em contato consigo mesma. A partir do momento em que o consumo aumenta, ele pode agir não só no sistema de relaxamento, mas em outros sistemas do cérebro. Dependendo da quantidade ingerida e da química cerebral de cada pessoa em particular, o relaxamento inicial pode dar lugar à sonolência ou a muita agressividade. Nem todo o mundo reage da mesma forma. A maioria responde a baixas doses de álcool com relaxamento leve e agradável. Uma minoria, porém, mesmo com baixas doses, fica muito violenta. Meio copo de cerveja pode desencadear reações totalmente descontroladas. É o que se chama de intoxicação patológica.

Formas de beber
Vários fatores podem facilitar ou não a absorção do álcool. Obviamente se a pessoa beber de estômago vazio, a absorção será maior. Por isso, muitos costumam tomar uma colher de azeite ou comer uma barra de chocolate antes do primeiro gole. Esses truques funcionam porque a gordura ou o alimento dificultam a absorção do álcool. Se uma pessoa quiser beber, é sempre melhor que o faça depois de uma refeição, porque não só a absorção do álcool será menor como será menor sua vontade de beber. No entanto, o costume é fazer exatamente o contrário. No caso da caipirinha, somam-se os seguintes inconvenientes: estômago vazio, bebida destilada e com açúcar. Pinga é um destilado e são absorvidos mais depressa do que bebidas fermentadas e o açúcar acelera o processo de absorção. Por isso, o efeito do champanhe doce é mais rápido do que o do vinho seco. Beber depressa, estômago vazio e bebidas destiladas, doces ou gaseificadas são fatores que facilitam a absorção do álcool. E tem mais: mulheres absorvem álcool mais depressa do que os homens ! Como possuem maior conteúdo de gordura, a concentração de água no organismo é menor e a de álcool tende a ser maior. Desse modo, nelas o efeito é mais rápido e os danos provocados nos diversos órgãos, mais intensos do que nos homens, mesmo que ambos tenham peso corporal idêntico e ingiram quantidade semelhante de álcool. Tomar água com o álcool também faz diferença, uma vez que ajuda a diluir a concentração dele. Faz diferença beber a mesma dose de destilado de uma só vez e bebê-la ao longo de uma hora intercalando goles d’água, porque a absorção se torna mais lenta.

Estrutura do raciocínio
O efeito paradoxal do álcool no cérebro é a falsa sensação de certa euforia e bem-estar que ele produz. A tendência é a pessoa imaginar que está falando coisas muito interessantes, perseverar na repetição das ideias e rir do que não tem graça. Seu pensamento fica empobrecido, mas ela não se dá conta disso. Alcoolizadas as pessoas não elaboram emoções nem pensamentos complexos, porque desenvolvem certa rigidez de pensamento. Por isso, pessoas intoxicadas alegres e felizes podem tornar-se violentas num instante se algo estranho ou diferente acontecer, uma vez que perderam a agilidade e a flexibilidade do pensamento. 

Álcool e memória 
Os danos que o álcool produz a médio e longo prazo no organismo são os mais importantes. As pessoas em geral se preocupam com o efeito do álcool no fígado, mas o dano que ele provoca no cérebro, especificamente na memória, é muito mais grave e mais comum. Exames neuropsicológicos que avaliam a memória e outras funções cerebrais em pessoas não necessariamente dependentes de álcool, mas que tomam três doses de uísque por dia, comprovam a existência de danos sutis na memória e na rigidez do pensamento, que elas não percebem ou atribuem ao processo natural do envelhecimento. A evolução pode ser lenta, mas o uso nocivo do álcool dentro desse padrão médio de consumo já acarretou com certeza distúrbios cerebrais.

Para um indivíduo com 70 kg, 3 ou 4 copos de cerveja podem conferir reflexos retardados, dificuldades de se adaptar em diferentes luminosidades, tendência à agressividade e comportamento aventureiro.
Se beber, não dirija !!!

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